Star
Trek: Deep Space Nine; segunda temporada (1993-1994)
Do que se trata
A
segunda temporada de Deep Space estabelece os rumos que levariam a série a ser
a mais elaborada de todo o universo de Star trek. O tema da série e seus
personagens são complexos, contraditórios e incertos, o que torna a série à
mais realista de todo o universo ficcional criado por Gene Roddenberry. Os
conflitos no mundo da época contemporânea à série ajudaram a dar cor aos
episódios, estes mais maduros, de certo modo, sombrios, sem dúvidas mais densos
do que Star Trek havia experimentado até então. O fim da guerra fria superou o
medo antigo de conflito militar que levaria o homem a um inverno nuclear
irremediável, quando cai o muro de Berlim em novembro de 1989 não são apenas
pedras que vão ao chão, mas toda uma concepção de mundo que durou praticamente
quarenta anos, duas gerações absorveram um conflito que caso estourasse levaria
o mundo a um caos que não poderia ser revertido, como viver em um barril de
pólvora com pavio aceso, sem saber o tamanho do pavio, fico feliz que tenhamos
sido frios o suficiente para não apertar o botão, um otimismo ingênuo que
aprendi com o senhor Roddenberry.
Assim,
temos durante toda a série uma espécie de resumo dos últimos quarenta anos de
sociopolítica, temos espionagem, o medo de um povo misterioso cujos propósitos
são de dominação total, temas espinhoso como campos de concentração,
terrorismo, constante medo de um conflito armado, crimes de guerra, o pós
guerra, religião e fanatismo, direitos civis entre outros. O povos de Bajor
acabam de se libertar de uma dominação cardassiana de cinquenta anos, precisam
organizar o novo governo, resolver seus assuntos internos e planejar seu
futuro, como se isso não fosse problema o bastante Bajor ainda terá que se
preocupar com o Dominion, um povo misterioso que estende suas dominações no
quadrante gama e promete ser um adversário cruel e impiedoso caso chegue a
fenda. Sobre esse contexto é como se com
a queda do muro tão recente, a sensação de alivio e de um mundo que tinha chego
ao fim inspirasse os roteiristas à não apenas narrar sua maneira de ver o mundo
mas também deixar sua crítica mesmo que pra isso tivessem que deixar um gosto
amargo em alguns episódios, nitidamente propositais para causa desconforto.
Sobre os
personagens
O
desenvolvimento dos personagens foi um acerto, todos tem seu suas trevas
expostas de alguma forma aqui. Sabemos que Roddenberry tinha mãos de ferro para
compor sua obra, por exemplo o episódio 28 da primeira temporada da série
clássica “The City on the
Edge of Forever” é considerado por muitos fãs como um dos melhores, seu
desenvolvimento contou com brigas com roteiristas e a polemica decisão de
creditar Halan Ellison, mesmo ele pedindo para não ser creditado, pois a versão
do roteiro que ele escreveu foi mudada antes da filmagem começar. O episódio
porém recebeu o Hugo Arward, o que deixou Ellisnon em uma situação difícil,
admitir que sua versão não foi a final era admitir que ele não merecia
reconhecimento ou o prêmio (que ele se negou a receber). Era melhor ser amigo
do que inimigo de Roddenberry.
Roddenberry determinou que em Star Trek: The
Next Generation (1987-1993) não houvesse conflito entre os personagens
principais, isso foi seguido de certo modo até a quarta temporada, com uma leve
flexibilização no decorrer dela até o final da série, com a morte do criador em
1991, foi possível desenvolver outros rumos para a criação do mestre, em TNG os
parâmetros já haviam sido criados e pouco havia para fazer ali, porém em Deep
Space Nine que se inicia em 1993, sendo assim após a morte de Roddenberry,
havia terreno livre para se construir. Logo, o que os personagens principais
mais fazem é entrar em conflito, as vezes por qualquer motivo. Por não se
tratar de uma nave estelar com o alto padrão de hierarquia e disciplina exigido
da frota a estação espacial 9, local de pano de fundo de praticamente todos os
episódios, é tudo menos disciplinada. Assim conflitos não são só esperados, são
bem vindos, Star Trek precisava disso, foi um acerto, em vários momentos a
frota estelar parece um grupos de escoteiros em relação as falcatruas e
malandragens desenvolvidas pelos habitantes da estação 9.
O comandante Benjamin Sisko, interpretado por
Avery Brooks, precisa lidar com manutenção da ordem na estação ao mesmo tempo
precisa orientar seu filho Jake, Sisko perdeu sua esposa na batalha com os
borgs anos antes, assim é a única figura da família próxima para Jake, ambos
são o alicerce um do outro. Sisko foi nomeado como o
emissário dos profetas, sendo assim uma figura de idolatria e respeito para os
povos de Bajor, algo que lhe causa desconforto, porém facilita o trabalho da
federação na região, já que Sisko, em missão de paz para dar suporte ao governo provisório, é visto
como uma figura quase religiosa, seu trabalho com os bajorianos fica também mais
fluido.
Kira Nerys, interpretada por Nana Visitor, é
uma ex-combatente das forças rebeldes bajorianas e ajudou seu povo a se
libertar da dominação de Cardássia. Sua posição de major das forças bajorianas
a coloca como um ponto de vista local, as vezes conflitante com Sisko que
precisa responder a federação, Kira responde ao povo de Bajor e a sua cultura e
ética complexa e milenar, ela é uma personagem religiosa, mas forte e
obstinada, sua dificuldade em deixar de lado seus modos do passado de rebelde e
sua forte inclinação as tradições bajorianas geram ótimos argumentos e
discuções nos episódios.
Chefe Miles O’Brian, interpretado por Colm Meaney,
era personagem esporádico de Next Generation, aqui ele tem sua personalidade
definida e divertidamente explorada, as vezes explorada até demais! O chefe
representa o trabalho braçal, na segunda temporada, começa de fato sua amizade
com o doutor Bashir, é sempre divertido vê-los de conversa pro ar no Quark’s e
suas aventuras na holosuit, apesar de nunca os vermos de fato na aventura e sim
a sugestão do que fizeram ou do que vão realizar. O chefe tem uma filha, aqui
com cinco anos e é casado com Kaiko, interpretada por Rosalind Chao, uma
botânica que desistiu da carreira para seguir o marido no novo emprego na
estação 9, essa mulher deve amar mesmo o O’Brian. Kaiko assume a função de
professora na estação.
Jadzia Dax, interpretada por Terry Farrell, é
um trill, uma raça resultante da união de um humanoide e um simbionte. Aqui, do
conflito surge uma nova vida, uma nova consciência. Dax, a identidade do
simbionte, possui mais de setecentos anos, assim o simbionte pode sobreviver
por muitas eras. Jadzia tem as memórias das vidas passadas de Dax, nem sempre
nítidas é verdade, alguns segredos envolvem o passado desse simbionte tão
antigo, sua forma de ver o mundo é otimista mas realista. Jadzia Dax precisa se
afirmar como “Jadzia” e romper com sua consciência anterior, o hospedeiro
Curzon Dax, sempre parte dela, mas nunca ela.
Doutor Julian Bashir, interpretado por
Alexander Siddig, é o médico responsável da estação. Sua visão quase inocente
conflita com o clima de guerra que envolve a série. Na segunda temporada o
conhecemos melhor, a visão de um médico intelectual arrogante mas atencioso vai
ficando para trás e vemos Bashir humanizado, sua relação com Garak,
interpretado por Marc Alaimo, um “alfaiate” cardassiano ardiloso, conflituoso,
mentiroso e irresistivelmente charmoso e engraçado, é responsável por alguns
dos melhores momentos da temporada e da série. Garak também terá sua
personalidade aprofundado quase tanto quanto a de Bashir. No geral Bashir terá
conflitos para com sua responsabilidade na federação e sua responsabilidade
como médico.
Odo, interpretado por René Alberjonois, é um
ser indefinido (liquido) que descobrirá sua origem no decorrer das temporadas.
Sua propriedade física lhe permite se transformar em qualquer forma material
orgânica ou não, no entanto ele tem dificuldades em reproduzir rostos
humanoides. Odo tem personalidade firme, é o chefe de segurança da estação e
constantemente entra em conflito com Quark, por seus negócios duvidoso e suas
constantes tentativas de fazer contrabando na estação. Odo busca humanidade e
definir em definitivo quem realente é.
Quark, interpretado por Armir Shimerman, é o
dono do Quark’s, um estabelecimento onde pode-se consumir, beber, almoçar,
jantar e usar as holosuites, basicamente os mesmos holodecks onde víamos o Data
bancar o Sherlock Holmes, só que configurados para atender ao público da
estação 9, um espaço onde através da realidade virtual pode-se vivenciar
praticamente qualquer experiência e recriar ambientes e pessoas. Quark aluga as
holosuites e os programas para se rodar nelas, Quark é quase um cafetão nesse
sentido, porém é possível viver qualquer aventura nas holosuites, de tomadas na
segunda guerra mundial a programas eróticos, vai da imaginação e do gosto do
freguês. Quark é o conflito encarnado, ele é um ferengi, como já foi dito no
texto da segunda temporada os ferengis são uma representação do capitalismo, na
verdade uma chacota dele. Assim, Quark se vê o tempo todo conflitando com Odo,
mas também com seu irmão Rom, interpretado por Max Grodénchik, e seu sobrinho
Gon, esse interpretado por Aron Eisenberg, os dois seus funcionários. Coitados!
Os episódios
Como
já foi dito, na segunda temporada temos a mesma tônica adotada na primeira,
episódios profundos em suas metáforas que se relacionam com nosso mundo e
algumas de nossas mais dolorosas feridas, problematizando assim os personagens
e nosso mundo. Vamos falar de alguns destes episódios seguindo a tradução feita
pela Netflix.
O
episódio 1 “A volta para casa”, mostra Kira em uma missão para resgatar
prisioneiros bajorianos de um campo de concentração Cardassiano. Aqui temos uma
relação com prisioneiros de guerra e campos de trabalhos forçados, algo que
vigora até os dias atuais, os EUA por exemplo tem uma relação conflituosa
quanto a isso, a pesar de condenar a pratica, tem em sua história manchas como
os campos de concentração japoneses que criou na década de 1940 e a ilha de
Guantánamo, claro que não vamos ver as pessoas quebrando pedras nestes exemplos
que citei como acontece no episódio, mas a metáfora sobre aprisionar pessoas
por ser considerada um perigo para o estado continua valendo. Temos também o episódio 3 e 4 “Círculo e o
Cerco”, o tema terrorismo é muito presente. O episódio 5 “Cardassianos”, nos
fala sobre crimes de guerra, uma criança cardassiana é criada por uma família
bajoriana e ensinada a odiar a própria espécie, uma forma que seus pais
adotivos encontraram de se vingar do povo que os dominou. Um tema muito pesado.
O episódio 7 é “Regras de Aquisição”, um episódio em que conhecemos melhor as
regras e vida dos ferengis. Aqui conhecemos Pel, um ferengi que logo chama a
tenção de Quark por seu vasto conhecimento das regras de aquisição e seu tino
virtuoso aos negócios. As regras de aquisição são o conjunto de normas que
norteiam a pratica comercial e moral dos ferengis. Os dois criam uma forte
aliança que fica encarregada de negociar em nome do grande Nagus, o líder (e
chefe religioso?) da sociedade ferengi. Quark é tão ganancioso
que não nota que Pel, tem atração por ele, Pel na verdade está apaixonado, e na
verdade é mulher. Na sociedade ferengi as mulheres não tem direito de fazer
negócios, uma mulher que “comete lucro” não só está cometendo crime como
condena sua família a humilhação e pesadas multas. Na sociedade ferengi as
mulheres não podem usar roupas e não podem lucrar, sendo completamente
marginalizadas e inferiorizadas pelos homens.
A metáfora aqui é clara, o fato das mulheres não poderem trabalhar na
sociedade ferengi se relaciona com os cargos de alto escalão executivo povoado
por homens e renumeração menor as mulheres em relação ao seu oposto. Já a
questão das mulheres não poderem se vestir, quantas meninas vestindo azul você
costuma ver por ai? O modo como os ferengis tratam suas mulheres é uma visão
exagerada de problemas e vícios socioculturais bem humanos.
No
episódio 10 “Santuário”, temos contato com refugiados, os Skrreeans que fugiram do quadrante gama
por perseguição do Dominion. Eles são fazendeiros e estão em busca da terra
prometida que acreditam ser Bajor. Aqui temos dois problemas desenvolvidos, um
é a ameaça do Dominion que se fará presente a partir daqui, nos é mostrado o
terror que esse poderoso império pode causar, estariam os personagens principais
de Deep Space Nine vendo a eles mesmos no futuro? O segundo problema é a ocupação
e responsabilidade que um povo tem ao receber o outro. Os Skrreeans são cerca
de dez milhões de fazendeiros, Bajor está se reconstruindo e não gosta da ideia
de dividir suas terras com outros povos da galáxia. Se você viu aqui alguma
relação com os refugiados sírios, ou iranianos, venezuelanos até? Essa relação
existe mesmo, porém por conta da época esta relação está mais próxima aos povos
judeus e europeus que passaram por ocupação do eixo durante a segunda guerra
mundial. Essa questão é aprofundada, os povos Skrreeans por serem fazendeiros
pedem apenas terras para Bajor, eles são especialistas e garantem que farão de
Bajor uma sociedade ainda mais prospera, mas Bajor tem seus temores, uma
mistura de culturas além de ser difícil pela questão da língua, fé e tradições,
também traz o temor em relação a temporadas difíceis, se a fome vir, como os
povos irão lidar com a adversidade? É o
que se pergunta Major Kira. Bajor ainda não está associada a federação, assim
ainda não possui por exemplo os replicadores que permitiram a Terra emancipar
da fome e da exploração. Esse episódio era atual na época em que foi escrito e
infelizmente continua atual.
O episódio 14 “Sussurros” é um thriller de ação e
suspense, se por acaso tem alguma dúvida em assistir à essa temporada comece
por esse aqui, depois você me agradece. Episódio 15 “Paraiso”, um episódio
sobre justiça, estado policial e utopia. Sisko e O’brian localizam um planeta
que possui uma colônia de humanos, ao descerem para investigar sua nave fica
comprometida o que faz com que eles tenham contato com os povos dali. Sua
sociedade à primeira vista parece pacifica, eles vivem sem qualquer tecnologia
avançada e como fazendeiros em uma cultura naturalista, porem com o tempo Sisko
e o chefe descobrem que o povoado possuem forte repressão moral e física.
Qualquer rompimento com as regras vigentes é punido severamente com a “caixa”,
uma analogia ao forno, forma de tortura e repressão adotada pelos fazendeiros
americanos no período de escravidão. Quando Sisko e O’brian estão nas
plantações eles avistam um homem ser retirada da caixa, então é dito a eles que
o homem havia roubado. A justificativa é
de que com o medo da punição ninguém cometerá crimes. Como já deve ter ficado
claro, não se trata de um mecanismo de correção moral mas sim um mecanismo de
controle, já que o medo nunca foi impedimento para criminosos e o episódio
deixa esclarece que a caixa era muito usada, logo, pode-se concluir que se ela
serve para prevenir crimes não está funcionado. Alixus é líder soberana do
local, é dela que toda a estrutura moral e a ordem da sociedade é construída, é
dela a decisão de quem vai ou não para a caixa. Ao final do conflito a justificativa
da líder autoritária é de que fez tudo ela comunidade, quantos lideres
realizaram atrocidades em nome de algo? Fica a ideia de que medo e
autoritarismo nunca se justifica a não ser pela figura soberba e egocêntrica de
quem os impôs.
O episódio 16 “Jogo de Sombras”, fala sobre o que
é real e o que é vida, já o 20 e 21 “Os maquis” parte 1 e 2, é sobre terrorismo
e conflito armado. O maquis são uma força paramilitar remanescentes dos
rebeldes Bajorianos que pretende libertar todos os povos que sofrem dominação
cardassiana através do terrorismo. Eles são de vários setores da galáxia e
composto por povos não só bajorianos, assim os maquis tem laços em vários
lugares. Temos aqui um grande aprofundamento dos personagens em especial de
Sisko, Gul Ducat, o cardassiano geralmente antagonista da série e Quark. É de
Sisko um dos monólogos mais impactantes, após ser ordenado a ele que estabeleça
um diálogo entre os maquis, cardassianos e bajorianos Sisko diz: “Só por que um
grupo de pessoas pertence a federação não quer dizer que sejam santas” ... “O
problema é a Terra, na terra não há pobreza, nem crime nem guerra. Você olha
pela janela do quartel general da frota e vê o paraíso. É fácil ser santo no
paraíso. Mas acontece que os maquis não vivem no paraíso. Lá fora, na zona
desmilitarizada os problemas não foram resolvidos ainda. Lá fora não existem
santos, só pessoas zangadas, assustadas, pessoas determinadas que vão fazer de
tudo para sobreviver. Não importa se a federação aprova ou desaprova”. Kira que
ouvira tudo apenas diz; “pra mim faz sentido”. Uma reflexão forte de Sisko, um
olhar atencioso e repreensivo frente a federação, lembrando aos mesmos quem não
são a linha moral do universo, ter empatia e solidarizar-se é o único caminha
pra um diálogo franco e sincero. Nesse episódio também tomamos conhecimento
sobre o sistema de justiça cardassiano, lá os julgamentos começam com a
sentença já definida, os julgamentos servem para entreter o povo. Isso nos faz
pensar sobre nosso próprio sistema jurídico e como temos que dar valor ao
sistema que precisa melhorar, mas é melhor que o dos cardassianos, temos que admitir.
Outro lado interessante do episódio é o ponto de vista de Quark sobre guerra,
ao ensinar lógica dos negócios para um volcano maqui, sim pois é, Quark ensina
logica a um volcano, essa série é demais, o ferengi demonstra que a paz está
barata, logo é hora de compra-la, quando todos tem poder igual a paz fica
barata e os rebeldes tem a vantagem no acordo pois a paz está em baixa, assim é
a melhor hora para compra-la, atacar só aumenta o conflito tornando a paz mais
cara. Eu gosto da lógica do Quark. O episódio traz um texto inteligente ao
abordar terrorismo por vários pontos de vista, e problematizar as relações de
poder.
O episódio 22 “Verdade e mentiras” conhecemos
mais sobre Garak e sobre a cultura cardassiana no geral. No episódio Garak fica
seriamente doente o que faz com que o doutor Bash se esforce ao máximo para
conseguir salva-lo. Um diálogo entre Bashir e Garak sobre um épico cardassiano
intitulado “O Sacrifício sem fim” define o episódio, nos é apresentado a
crônica de uma família cardassiana que cometem basicamente os mesmos erros
sempre, todos os personagens tem vidas altruístas de serviços ao estado
envelhece e morre, depois vem a geração seguinte e faz tudo de novo. Segundo
Garak o épico repetitivo é a estrutura mais elegante da literatura cardassiana.
O doutor ainda retruca, diz que nenhum dos personagens tem realmente vida,
viver é mais que o dever com o estado. Enquanto que Garak apenas responde;
“típico ponto de vista da federação”. Nota-se que os roteiristas se divertiam
muito na elaboração destes diálogos, aqui temos Garak representando com muito
humor uma sociedade autoritária e reacionária sendo questionada por Bashir que
veio de uma utopia, a Terra e a federação.
O Episódio 24 “O Colaborador”, problematiza a
relação de subserviência, vedek Bareil, um homem próximo a Kira é acusado de
colaborar com os cardassianos durante a ocupação em Bajor. Aqui temos metáforas
que podem se estender a polícia judaica, e mesmo não sendo o objetivo dos
roteiristas podemos comparar com o “capitão do mato” no Brasil. Para um povo
oprimido um colaborador do opressor é visto como pior que quem oprime. Vimos
isto de forma brilhante no filme de Tarantino Jango Livre.
Como expus a segunda temporada composta por 26
episódios acompanha a primeira em seus tons sombrios mas também oferece humor,
aprofunda seus personagens nos fazendo querer saber mais sobre eles e traz
histórias criativas com várias metáforas que podemos comparar com nosso mundo.
A segunda temporada é tão boa quanto a primeira assim sendo, um ótimo programa
de televisão, ainda diverte, ainda entretém e em muitos sentidos infelizmente
ainda é atual.
Segue aqui lista dos episódios com comentários do
site Trek Brasilis para que quiser
saber mais, um abraço e obrigado por ler esse artigo.